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A Igreja pode se envolver em política?
A Igreja pode se envolver em política?

A Igreja pode se envolver em política?

Participação da Igreja na Política e em Alianças Partidárias: Uma Perspectiva Reformada

A pergunta “A igreja evangélica pode se envolver em política?” tem gerado intenso debate, especialmente após escândalos recentes que expuseram o uso indevido de influência religiosa para fins partidários. À luz da teologia reformada, é imperativo abordar esse tema com base na fidelidade bíblica, na distinção entre os ofícios da Igreja e do Estado e na responsabilidade social dos cristãos como agentes de transformação.


1. Princípios Bíblicos e Teologia Reformada

A Escritura afirma que toda autoridade é estabelecida por Deus (Romanos 13:1-7), e os cristãos são chamados a ser “sal da terra” e “luz do mundo” (Mateus 5:13-16), influenciando a sociedade para a glória de Deus. Contudo, a teologia reformada enfatiza que a Igreja, como instituição, tem uma missão espiritual distinta: proclamar o Evangelho, administrar os sacramentos e discipular os fiéis (Mateus 28:19-20). Já os cristãos individuais, como cidadãos, são chamados a exercer sua vocação política com integridade, buscando a justiça e o bem comum (Jeremias 29:7; Miqueias 6:8).

Abraham Kuyper, teólogo reformado e ex-primeiro-ministro da Holanda, declarou:
“Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: ‘É meu!’”.
Isso ressalta a soberania de Cristo sobre todas as esferas, incluindo a política, mas também exige discernimento para evitar confusão entre o Reino de Deus e projetos humanos.


2. A Relação Igreja-Estado no Brasil: Lições Históricas

A história brasileira revela os riscos da instrumentalização da fé para fins políticos. Durante o período colonial, a união entre a Igreja Católica e o Estado resultou em corrupção e perseguição a dissidentes. A proclamação da República (1889) trouxe a separação formal entre Igreja e Estado, mas desafios persistem, como o recente envolvimento de líderes evangélicos em esquemas de corrupção e alianças partidárias questionáveis.

João Calvino, em As Institutas (Livro IV, Cap. 20), alertou:
“A autoridade espiritual e a temporal devem ser distinguidas, para que não corrompamos a liberdade do Evangelho com jugos humanos”.
A Igreja, como instituição, deve manter independência para cumprir seu chamado profético, denunciando injustiças sem se tornar refém de partidos (Atos 5:29).


3. O Grande Escândalo: Alianças Partidárias e Compromissos Éticos

Escândalos recentes envolvendo líderes religiosos em troca de favores políticos expõem a tentação de substituir a fidelidade bíblica por poder temporal. A Bíblia adverte: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos” (2 Coríntios 6:14). Embora alianças sejam inevitáveis em um sistema democrático, a Igreja não pode negociar seus princípios éticos, como a defesa da vida, da família e dos pobres (Provérbios 31:8-9).

Francis Schaeffer, teólogo reformado, argumentou:
“A Igreja deve ser a consciência do Estado, não sua parceira. Quando ela se cala diante da injustiça, trai sua missão”.


4. Caminhos para uma Participação Responsável

A teologia reformada propõe um engajamento político crítico e responsável:

  1. Indivíduos, não a instituição: Cristãos devem atuar na política como servos públicos, mas a Igreja, como corpo, não deve endossar candidatos ou partidos (Romanos 12:2).
  2. Princípios acima de partidos: A defesa da justiça, da santidade da vida e da liberdade religiosa deve guiar as posições (Isaías 1:17).
  3. Transparência e Prestação de Contas: Líderes religiosos devem evitar conflitos de interesse e prestar contas à sua comunidade (1 Timóteo 3:2-7).
  4. Profetismo, não pragmatismo: A Igreja deve denunciar a corrupção e a opressão, mesmo que isso custe popularidade (Amós 5:24).

Herman Bavinck reforça:
“A Igreja é chamada a ser uma voz profética, não um braço do Estado. Sua força está na Palavra, não no poder político”.


5. Conclusão: Fidelidade Bíblica em Primeiro Lugar

A tensão entre fé e política não é nova, mas a resposta reformada está na soberania de Deus e na integridade da missão da Igreja. Como escreveu R.C. Sproul:
“O Cristão pode e deve participar da política, mas a Igreja não é um partido — é o Corpo de Cristo, chamado a proclamar a verdade, não a negociá-la”.

Que a Igreja no Brasil, seguindo o exemplo de Daniel (Daniel 6:4-5), seja conhecida por sua integridade e coragem, buscando o bem da nação sem se corromper. Afinal, “a nós pertence o Reino dos Céus” (Mateus 5:10), e nossa esperança última não está em governos humanos, mas em Cristo, o Rei dos reis (Apocalipse 19:16).


Citações Bíblicas (RA):

  • Romanos 13:1: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus”.
  • Mateus 22:21: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
  • Provérbios 29:2: “Quando os justos governam, o povo se alegra; quando os ímpios dominam, o povo geme”.

Referências Teológicas:

  • Kuyper, A. A Obra do Espírito Santo.
  • Calvin, J. As Institutas da Religião Cristã.
  • Schaeffer, F. O Deus que Intervém.
  • Bavinck, H. Teologia Sistemática.

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